A economia brasileira está parada, a espera do que vai acontecer no país. Investidores querem saber quem será o próximo presidente, conhecer suas reais propostas de governo para, só então, decidirem se vão continuar investindo no país ou vão buscar outros mercados. Aliado a isto, o governo tem dado demonstrações de enfraquecimento, como na greve dos caminhoneiros e na votação de matérias aprovadas no Congresso Nacional, que tiraram parte do impacto a reforma fiscal. Os reflexos dessa realidade são fatais para o brasileiro. O desemprego continua alto e as expectativas para o segundo semestre não são animadoras. Isso tem afetado a autoestima do brasileiro, que não vê esperança em um futuro melhor. Pelos dados do IBGE, 67% dos desempregados no país têm entre 18 e 39 anos. Com esse cenário até as eleições, segundo o economista da Fiemg, Guilherme Leão (foto), a tendência é a de revisão do índice do crescimento do país.
A geração de novos empregos é lenta e muitos brasileiros que estão desempregados não saem mais para procurar emprego. É um momento de desesperança?
Talvez seja o termo mais próximo do que está acontecendo. O termo que o IBGE usa é desalento, um contingente de desalentados. São pessoas que, na prática, acabaram desistindo. Elas gostariam de procurar emprego em algum momento, mas chegou um ponto em que elas desistiram de procurar um emprego, porque viram que não estavam conseguindo ser bem sucedidas nesta tentativa. Não deixa de ser uma forma de perda de esperança o que foi captado no último levantamento do IBGE. Se fizermos uma análise mais fria, veremos que houve uma queda na taxa de desemprego no estado, de 12,6% para 10,8 a 11% do primeiro para o segundo trimestre, mas podemos associar ao recorde que tivemos nessa questão o índice de pessoas desalentadas. É uma situação em que a redução do desemprego, que aparece no índice do IBGE, indica que o dado tem mais relação com quem está saindo do mercado de trabalho, desistindo de procurar emprego, do que a retomada do emprego, com contratações. Isso reforça essa hipótese. Em Minas Gerais, os últimos dados do Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados), que mede o saldo de empregados e desempregados, voltou a apresentar saldo negativo, inclusive na indústria. A desesperança tem uma relação com a economia.
Os índices de confiança dos empresários também indicam esse sentimento?
Quando olhamos os índices de confiança da indústria e das pessoas, percebemos que há uma perda de confiança generalizada, principalmente no meio empresarial. Quando os índices aparecem no campo negativo em termos de expectativas para os próximos meses, existe uma relação direta com o emprego. O empresário não tem uma expectativa para os próximos meses em relação ao país, ao negócio dele, e, naturalmente ele não vai efetuar contratações. O processo de contratação em qualquer segmento é uma resposta à expectativa de crescimento de demanda ou de investimento. Como a economia não reage, isso tem um efeito direto no atraso de retomada do emprego na economia. O processo de gradual redução de desemprego que aparece na pesquisa do IBGE, tem mais a ver com a saída de pessoas do mercado, desistindo de continuar procurando emprego, do que uma reativação da economia. Outro dado que reforça essa situação foi o dado do IPCr com a previsão do PIB para o segundo trimestre que está mostrando queda e, provavelmente, o PIB do terceiro trimestre será de queda. Enquanto no primeiro trimestre nós tivemos um crescimento pequeno, de 0,4% no PIB, agora aparece indicando que teremos queda e essa queda vai, inclusive, anular o pequeno crescimento que tivemos no início do ano. O processo de retomada da economia está muito instável, muito lento. Em um momento como este no país, em que estamos a poucos meses do processo eleitoral, com uma situação muito incerta em relação às reformas e no ajuste fiscal, a economia está parando. Estou acreditando, inclusive, que todos os agentes econômicos vão começar a fazer revisões na projeção do PIB para 2018 para baixo. Infelizmente esta é a tendência que teremos daqui para frente.
Enquanto não houver uma sinalização de quem será o próximo presidente do Brasil a tendência é a de paralisação da economia?
Exatamente. Nós tivemos fatores vários no primeiro semestre, entre eles a greve dos caminhoneiros, mas nesses casos, não podemos pensar só em um processo que travou o processo de produção em todos os segmentos. Temos também um governo que perdeu completamente o controle institucional do país, da economia, e isso derruba qualquer expectativa do que teremos pela frente. No processo eleitoral, nós vimos nos últimos meses, na verdade, o governo e o Congresso mostrando um retrocesso forte em relação a um ajuste fiscal. Tudo isto joga contra as expectativas e o risco país. Nós temos no segundo semestre um processo eleitoral que ainda não está claro. Está tudo muito pulverizado, muito dividido. Enquanto não tivermos uma sinalização mais clara de quem são os reais candidatos mais fortes no processo eleitoral, é claro que os agentes econômicos fazem uma associação entre quem são os candidatos que estão subindo nas intenções de voto e as propostas dos candidatos feitas pelos economistas. É nesta hora que se vê que ainda há muita incerteza em relação aos candidatos.
Outro dado preocupante na pesquisa do IBGE é em relação ao desemprego entre os que tem 18 a 39 anos. Isso indica que os jovens não estão conseguindo nem ter o primeiro emprego?
Isso é muito preocupante porque essa é a faixa em que o nível de emprego é mais alto na economia como um todo. O desemprego atinge mais ou menos 12% da população economicamente ativa e nesse segmento, nessa faixa de idade, a cada quatro pessoas nessa faixa, uma não consegue emprego. Certamente, nessa parcela é que temos um alto contingente de desalentados e eles desistem, porque vão continuar na casa dos pais, com os familiares, esperando que, em algum momento, apareça alguma oportunidade para eles. A economia não avança e, inclusive, isso gera um êxodo de pessoas saindo do país. A situação no país, infelizmente, é muito complicada.