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Blog do PCO

Entrevista Rodolfo Gropen

O Clube Atlético Mineiro decidiu seguir o mesmo caminho trilhado pelos times europeus, o de garantir a sua receita própria com a construção de um estádio de futebol. O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Rodolfo Gropen, passou os últimos quatro anos estudando como viabilizar uma obra desse porte, pensando não só nos jogos de futebol, mas em um espaço para atender a indústria de entretenimento. O projeto começou a tomar forma quando o clube recebeu como doação empresário Rubens Menin (MRV) um terreno perto da Via Expressa, no bairro Califórnia, de 70 mil m². O local fica perto da BR-040 e do Anel rodoviário. São três grandes vias de acesso e fica a menos de 1,5 km de uma estação de metrô, segundo Rodolfo Gropen. Para ele, o terreno é o ideal para se construir a Arena MRV, obra que deve ter início em março do ano que vem.

 

Por que a diretoria do Atlético tomou essa decisão de construir um estádio?

O Atlético tinha duas hipóteses, ou seguir o caminho perfilado pelo Corinthians, pedindo empréstimo para a construção do seu próprio estádio, ou tentar um parceiro, como fez o Palmeiras, onde uma construtora fez o estádio e hoje detém 100% dos benefícios financeiros dos eventos e 30% de toda arrecadação da bilheteria com o futebol. Como o Atlético é proprietário de um shopping, o Diamond Mall, a diretoria executiva capitaneada por Daniel Nepomuceno, conseguiu negociar com a Multiplan 50,1% do shopping por R$ 250 milhões. O estádio custa R$ 410 milhões. A MRV comprou o naming rights por R$ 60 milhões e o Atlético vai vender 4.500 cadeiras por 15 anos, perfazendo o volume financeiro necessário. Caso não se venda as cadeiras, Ricardo Guimarães (BMG) se prontificou a comprar a maioria delas, para que o projeto seja seguro em termos financeiros. Então, o Atlético nem vai pedir empréstimo, nem vai ter um parceiro na construção, já que 100% do rendimento da nova arena do Atlético é do clube, sem empréstimo. Ela vai ser a arena mais moderna do Brasil, e será o único estádio do Brasil que terá 100% de benefício para o clube.

 

Como foi a condução desse processo?

Eu sou presidente do Conselho Deliberativo do Atlético e conduzi essa reunião, que foi realmente histórica. Nos últimos 30 anos não se reuniram tantos conselheiros para decidir uma questão. Mais de 86% de presença dos conselheiros. Gente que se levantou de leito hospitalar para ir, muita gente de cadeira de roda, gente de muleta, até conselheiros cegos foram votar. O Chico Pinheiro, jornalista da Globo, saiu do Rio de Janeiro só para votar, teve gente que veio dos Estados Unidos só para votar. Para mim foi muito gratificante. O conselho deliberativo está unido. O resultado foi que 96% dos votos foram iguais, de sim ao projeto. Votaram 337 conselheiros.

 

Por que a vontade de ter um estádio? O Independência não serve mais para o time?

Nós não apuramos o valor do futebol que precisamos no Independência. Existem apenas quatro grandes times no Brasil que não têm o seu próprio estádio. Era o Atlético, o Flamengo, o Fluminense e o Cruzeiro. Para se ter uma ideia, quando jogamos no Mineirão nós ficamos só com 35% do valor da renda e não lucramos com bar ou estacionamento. O Independência é pequeno para a nossa torcida. Tentamos fazer uma ampliação no Independência, mas o América, que é proprietário do estádio entrou na Justiça e barrou. Por que é problema um estádio menor? Porque nós temos programa do sócio torcedor, que se chama Galo na Veia, que está chegando a 100 mil torcedores. É preciso ter espaço para os sócios torcedores irem. Eu entendo que é preciso resgatar aquela torcida que não tem muito favorecimento financeiro. Haverá um lugar generoso para ingresso mais barato, lugares onde não haverá cadeiras, será como as arquibancadas do Mineirão, para se vender o ingresso mais barato para dar voz e presença ao torcedor menos favorecido, que também é parte da nossa torcida. Nós falamos que o Atlético é um time de todos. Nós teremos a parte de camarotes, cadeiras e uma parte para os menos favorecidos para viver a experiência do futebol, porque nos preocupa muito a facilidade que se vê hoje um futebol na televisão, em casa. O torcedor precisa ter a experiência, ir além do que derramam para os nossos filhos. Nós precisamos atrair os jovens para torcer pelos times daqui.

 

Qual é o cronograma com que o Atlético está trabalhando?

O projeto precisa, agora, ser aprovado na Câmara Municipal. A nossa expectativa é a de ter aprovado o projeto até o final do ano, e novembro, para que em março nós comecemos com as obras, que devem durar dois anos, dois anos e meio. A ideia é a de que até outubro de 2020 a Arena MRV esteja pronta.

 

A partir daí será uma nova fase para o Clube?

O Atlético precisa dessas receitas todas. Dos bares, dos camarotes, do estacionamento para fazer frente aos times de São Paulo, por exemplo, que tem um valor de cota muito maior em relação à televisão, que é o nosso principal ativo em termos financeiros. O Atlético precisa desses valores para fazer frente aos nossos concorrentes.

 

Essa é a tendência dos Clubes de Futebol, o de ter essa autonomia?

Os grandes times europeus têm seus próprios estádios. E repetindo a frase, se shopping fosse bom, o Barcelona teria cinco. O time não tem nenhum shopping e tem seu próprio estádio. Tendo a sua casa você consegue se planejar para receber mais sócios torcedores e poder aproveitar financeiramente disto. É importante dizer que a arena foi planejada pelo escritório do Bernardo Farkasvolgyi para receber grandes shows. A arena MRV foi planejada para entrar uma carreta dentro para se montar e desmontar uma estrutura. No Mineirão se demora cinco dias, lá tudo pode ser montado em um dia. Isso tudo é custo. O projeto é para futebol e para espetáculo, que Belo Horizonte carece tanto. A capacidade será para 41.800 mil pessoas.

 

A tendência é de esvaziamento do Mineirão e do Independência?

Eventos têm poucos aqui. O que acho é que vai mudar com a Arena MRV. Não sei o que eles vão fazer. Para se ter uma ideia, o Cruzeiro briga na Justiça com o Mineirão. O Cruzeiro que tem um contrato de 25 anos vinculado com o Mineirão, hoje ele briga com o Mineirão na Justiça e subtrai de cada renda 25%, além das despesas normais. O Mineirão não deu certo depois da reforma. . O Independência é do América, em que pese o estado ter colocado tanto dinheiro na reforma, nós não conseguimos ficar lá definitivamente, justamente porque o América não quer que aumente a capacidade. Nós tentamos fechar a arquibancada para aumentar a capacidade, mas o América impediu judicialmente. O Mineirão e o Independência não nos atendem, por isso nós estamos caminhando agora em um trabalho de quatro anos. Na época eu era diretor de Planejamento, foi um projeto gestado, estudado durante quatro anos e só foi apresentado quando a conta fechou. Agora é só ter as aprovações na Câmara Municipal e as últimas licenças para em março o Atlético inicie esse projeto, que eu tenho certeza, vai ser muito bem recebido por todos os setores de Belo Horizonte.

 

Com o estádio, o Atlético passa a ser um clube empresa?

Desde o final de 2008, todos os atos de administração são no sentido de transformar o Atlético em uma empresa e foi pensando nisto que o estádio foi gestado, porque o Atlético precisa de mais receitas para ser superavitário.

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