O Brasil passa por um momento preocupante e o que é pior, muitos tentam tirar proveito da situação, segundo o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Olavo Machado Jr (foto). Para ele, todo mundo tem razão, mas ninguém consegue resolver o problema. Falta pulso para conduzir o país, sem misturar com questões ideológicas. O empresário, que foi presidente da Fiemg, entende que tem muita gente querendo o Poder, mas nós precisamos mesmo é de quem saiba mandar.
O governo federal tem sido pressionado a fazer mudanças no ministério e o presidente Jair Bolsonaro trocou alguns ministros. Essas mudanças agradaram aos empresários?
É realmente um quadro diferente e preocupante. Não tenho dúvida de que o problema maior que nós temos é que todo mundo tem razão, mas ninguém consegue caminhar de forma a resolver o problema. Não tenha dúvida de que a pandemia desestruturou muita coisa e tem sempre aqueles que querem tirar proveito da dificuldade dos outros. Existe a necessidade de cuidar de todo mundo, de dar atenção a todos e, por outro lado, tem a necessidade de não deixar a economia degradar mais do que já está. São muitas as necessidades e dificuldades a serem vencidas. Aí vem o lado político, que é um horror, quando se vê um aproveitamento político e ideológico em cima desse momento de pânico, que afeta a todos. Isso é preocupante. Acho que os empresários têm a sua razão em ter preocupação, porque a desestruturação é muito grande e afasta o investidor. O investidor de fora não vai querer vir para um lugar onde não se consegue administrar o que se tem. A preocupação é relevante e acho que isso tudo vem dos tantos anos de desmando por qual o país passou, aflorando agora, fazendo com que tenha ideologia até na Justiça. Todo mundo tem razão, mas onde está a liderança para não deixar degradar mais do que já degradou até agora.
Está faltando pulso?
No meu entendimento, o presidente é muito bem-intencionado, mas não tem a dimensão do cargo que ele está ocupando. Com isso, nós passamos a ter uma série de dificuldades que não precisavam ser criadas. Se a liderança tivesse consciência do poder que tem. Ninguém está questionando o poder dele, os que estão é porque têm outras intenções. Não se coloca a ideologia acima daquilo do que ele é capaz de construir.
A Câmara e o Senado estão tentando assumir a condução desse processo. Essa ação pode ajudar?
Eles não foram feitos para isso, e isso cria uma variável mais complicada porque todo mundo quer dar palpite onde não tem que dar palpite. Tem que ter é união. O Congresso tem um papel muito importante e o que se espera é que ele cumpra esse papel, mas na hora que se coloca a priorização ideológica acima da necessidade do povo é que caímos nisso aí. O Congresso foi feito para fiscalizar e criar regras. A Justiça para fazer com que as regras sejam cumpridas e o Executivo para executar. Quando se acha que um pode dar palpite no outro, eles acham que resolvem todos os problemas, mesmo sem saber quais eles são. Dar palpite na vida dos outros é muito fácil, mas ir lá e fazer o melhor é muito difícil. O que acontece com os palpiteiros? Eles vão embora e deixam tudo destroçado.
É muita gente querendo mandar?
É muita gente querendo ter Poder. Nós até estamos precisando de quem saiba mandar. A polêmica entre pandemia e economia nunca deveria existir. Por que nós tivemos esse surto aumentado de dezembro para cá? Primeiro nós não sabemos o que está por traz e não acreditamos na seriedade de quem está no comando. Uma vez que eu não acredito em quem está falando, eu não cumpro as regras estabelecidas. Não cumprindo, houve uma contaminação maior. Aquilo que se falou que precisava fazer para a saúde estar preparada para um mal maior, não prepararam. Gastaram dinheiro e não se prepararam. Fizeram um monte de hospital de campanha e chegaram à conclusão de que podiam desmanchar os hospitais, e eles agora estão fazendo falta. É muito palpite, em algo onde é necessária muita seriedade, muita competência, para ser misturado com ideologia.
O senhor acha que houve atraso na vacinação?
Eu acho que não existe atraso, acho que isso é mais uma maneira de colocar defeito em quem está fazendo. Mas quem está só criticando não está fazendo nada. É muito fácil ficar do lado da crítica. O Brasil é reconhecido como um país que sabe vacinar, mas falam que não comprou a vacina na hora certa. Não comprou a vacina porque havia uma tendência de melhora, e foi essa tendência que levou muita gente a relaxar e a piorar a situação. Esse novo ministro disse que vamos vacinar mais de um milhão de pessoas por dia e no dia seguinte fizeram quase um milhão de vacinação. O governo tem condições de fazer. Resolvido o problema da vacina, vamos avançar. Nós temos que ficar atentos para a importância do desenvolvimento tecnológico, que muitas vezes delegamos para um segundo ou terceiro plano. Na hora que tem que cortar no orçamento, corta-se no desenvolvimento tecnológico, porque não acreditamos nos brasileiros que estão fazendo esse trabalho. O CNI criou esses laboratórios para serem priorizados e isso era para ser priorizado não só para se ter desenvolvimento, mas porque o país se prepara para concorrer no mercado. Nós ficamos dependendo do mundo inteiro das vacinas. Falam que nossas universidades estão sucateadas. Não estão. Tem muita gente boa, competente, que vai fazer um curso no exterior e não volta porque não deixam voltar. Mas não temos o hábito de valorizar, principalmente, aquilo que nós não entendemos. Nós não apoiamos o sistema de desenvolvimento tecnológico, que é de extrema importância. Nós também não podemos ficar no palpite de quem foi eleito, mas não sabe nada do que está fazendo. Se tivéssemos uma voz de comando forte, mas dentro da democracia e do que sabemos do que é preciso, o país estaria muito mais à frente. No meio da crise não sabemos se podemos confiar no Judiciário. Se faz um movimento para tirar um ministro do Supremo, como se isso fosse normal. Isso não é normal. O Supremo também tem que saber das suas limitações, daquilo que a Constituição espera que o Supremo faça e não ficar testando para ver se passa. Se pudéssemos esquecer o passado, talvez tivéssemos mais velocidade para o futuro.
O quadro está complicado?
Nós precisamos ter coragem, peito, união para separar o joio do trigo. Não é sair punindo todo mundo. Separar quem está trabalhando por melhoria, daquele que é oportunista. É um quadro muito complicado. Muitas vezes uma pessoa dentro de uma fábrica está mais protegida do que dentro de um ônibus, então, é preciso resolver o problema no ônibus para que a pessoa possa se deslocar. Na hora em que se diz que tem que ficar em casa e diminui o número de ônibus, cria-se um horário de pico constante. É preciso ter um espaçamento e os ônibus têm que estar mais vazios e quem tem que pagar por isso é o Poder Público, que tem que dar as condições para que todos possam se locomover. Não pode ter festa, não pode ter aglomeração. Mas ir para um local onde a pessoa sabe que terá um controle melhor do que na própria casa, ela estará ajudando a sociedade como um todo. Não é porque tenho o poder que me foi dado pelo voto, que eu posso fazer qualquer coisa. O Brasil é muito amador. Isso é um jogo para profissionais. Está faltando humildade de reconhecer as nossas limitações de conhecimento. Respeitando, juntos vamos resolver os problemas.