Toda vez que o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe (foto/Tião Mourão), volta de uma viagem à China, ele diz perceber a diferença de um país que investe na produção e no desenvolvimento, enquanto o Brasil patina em leis como a de redução da carga horário de trabalho, que tira a competitividade da indústria brasileira. Roscoe participou da missão mineira na Austrália e na China, onde ele disse que foram feitos acordos importantes.
Como foi a viagem para China e Austrália com a missão mineira?
A viagem foi excelente. Dentro da expectativa. O estado de Minas Gerais captou investimentos, a Fiemg assinou três acordos da utilização do nosso laboratório de terras raras, conversamos com investidores e acredito que plantamos muitas sementinhas.
Qual a dificuldade para atrair investimento no Brasil?
São os entraves de sempre, o custo Brasil, a dificuldade de vencer a burocracia, as Inúmeras barreiras que sempre tivemos para produzir aqui. Sempre essas as maiores preocupações de quem investe aqui.
O senhor chega dessa viagem em meio a discussão do projeto 6 por 1, de redução da carga-horária de trabalho. Qual a sua avaliação dessa proposta?
Um projeto desse, para mim, é uma brincadeira de mau gosto. Nós já estamos em uma economia de pleno emprego. Reduzir a carga horária significa o que? Que vai faltar gente para trabalhar. Vai tirar a competitividade da economia brasileira. Nós vamos destruir os empregos que temos e o preço de tudo que se consome vai aumentar na mesma proporção. Então, tenho certeza de que o Congresso vai rever essa discussão e no final, o bom senso vai prevalecer.
Pode acabar com muitas empresas?
A indústria brasileira deixa de ser competitiva. Como vamos competir com a China, os caras lá trabalhando o tempo que for, e aqui, a gente trabalhando 3 dias por semana.
Já vamos ter o efeito China com os Estados Unidos, né? Essa expectativa, a partir de janeiro, de ter uma mudança também nessa relação?
Com certeza. Então, a minha leitura é: o cenário já é difícil e, por incrível que pareça, as pessoas não cansam de criar dificuldade. Tem gente que acha que cria solução com lei. Economia não é feita por lei, a economia feita por produtividade e competividade. Essa diferença em relação ao Brasil ficou muito claro, lá na China, eles querem aumentar a produtividade e a competitividade. Como é que a China chegou aonde ela chegou? Chegou promovendo o desenvolvimento, através do empreendedorismo. Isso é muito claro para eles. E aqui no Brasil nós estamos na contramão. Não é atoa que a China está voando cada dia mais e o Brasil continua aí, engatinhando, com potencial enorme, mas o potencial não vira realidade em função de um projeto como esse, de redução de turno, do nada, minando a competitividade brasileira, minando até mesmo os postos de trabalho. Só não está preocupado quem é funcionário público, que vai continuar trabalhando o mesmo tanto. Mas você , usuário de serviço público, deve ficar preocupado, porque aí quem vai estar no hospital quando o médico contratado não vai estar? O governo tem dinheiro para contratar todos os funcionários públicos que ele vai precisar? Quem vai pagar essa conta? Certamente não é o deputado que propôs o projeto, porque o dele está garantido.
Em relação ao Donald Trump, o mandato dele terá efeito na economia?
Por enquanto não dá para ter uma noção completa. Tem que ver as primeiras ações e projetos do presidente, porque narrativa de campanha, às vezes, na realidade é um pouco diferente. Então é o caso de aguardar. Mas acho que tem boas oportunidades para o Brasil, inclusive na área da indústria.