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Mais de um século de contribuição japonesa

Paulo César de Oliveira
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Os 110 anos da imigração japonesa no Brasil marcam o Festival Minas Japão, que termina neste domingo, no Expominas. O evento idealizado pelo Cônsul Honorário do Japão, Wilson Brumer, mostra uma integração entre Minas e o Japão, que vai além da colônia nipônica. Essa presença está na indústria, na agricultura e na cultura japonesa, que encontra adeptos não só em Minas, como em todo o país. Brumer(foto), que foi secretário de Estado, CEO de empresas importantes como a Usiminas, acompanha as mudanças na economia brasileira e, ao contrário do que muitos afirmam, para ele, a economia está atrelada à política e sofre todos os efeitos das atitudes pouco republicanas denunciadas pelo Ministério Público Federal.

 

Essa ligação do senhor com o Japão e o Festival Japão Minas mostram a presença dos japoneses no estado?

Pessoalmente me envolvi em função da minha atividade empresarial, desde a minha época em que trabalhava na Vale e depois na Usiminas, na Acesita, até no governo do Estado, onde estive por um certo período. A minha atividade empresarial sempre teve muito envolvimento com o Japão. Tive a honra, infelizmente em um momento ruim, de substituir Rinaldo Soares, que era o Consul em Minas e em Belo Horizonte, mas infelizmente faleceu. Há sete anos assumi essa posição e a partir daí começamos a realizar o festival, que está em seu sétimo ano e de certa forma já se incorporou às atividades culturais e de eventos da cidade. A cada ano nós tentamos melhorar o festival e incrementá-lo. No ano passado tivemos a presença de mais ou menos 28 mil pessoas e esperamos superar esse número este ano. Além das atividades normais no Japão, que são as várias oficinas, as demonstrações de artes maciais, o karatê, as lutas de ninja e as oficinas de pintura. A cada ano procuramos dar um tema ao festival e neste ano focamos muito no culto budista, que é muito difundido mundo afora. No Brasil muitas pessoas o praticam e por isso focamos no culto budista. Nós colocamos inclusive uma área para meditação. Há também a parte de culinária e de compras, além da presença da comunidade nipônica de Minas Gerais, com pessoas de Belo Horizonte, Montes Claros, Pirapora, Barbacena, São Gotardo, Carandaí, que são descendentes diretos ou já numa segunda ou terceira geração de japoneses. Neste ano completamos 110 anos de comemoração da primeira imigração de japoneses para o Brasil.

 

Depois de São Paulo a maior colônia japonesa em Minas?

A maior comunidade é em São Paulo, nós temos também muitos japoneses no Paraná, no estado do Pará, que tem uma comunidade grande e, em Minas Gerais, não é uma comunidade grande, mas é muito representativa, sempre lembrando que os japoneses têm muitos investimentos em Minas Gerais. Os exemplos mais conhecidos são Usiminas, Cenibra. Nem todos sabem que os japoneses tiveram muita importância na agricultura em Minas Gerais, principalmente em um projeto chamado Polocentro, na década de 70, 80, em uma região de produtividade quase inexistente e que hoje é um centro de produtividade de grãos e, mais recentemente, na região mais ao norte do estado, temos o projeto Jaíba, onde eles também tiveram participação extremamente importante. Sempre lembrando que entre Minas Gerais e o Japão, existe uma província no Japão, que é como se fosse um estado, chamada Yamanashi, onde a cada ano nós enviamos jovens que ficam de oito a nove meses nessa província, conhecendo mais sobre a cultura japonesa e se especializando e, certamente, ao voltarem ao Brasil têm um leque de opções profissionais. Nós teremos, mais uma vez, um seminário entre a Polícia Militar e autoridades de segurança do Japão, onde o foco neste ano será muito mais nos aspectos de desastres ambientais. No Japão, os desastres ambientais são comuns como os tsunamis e os terremotos. Comparecem do lado brasileiro cerca de 500 policiais militares para a troca de informações e de parceria entre os órgãos de informação, com foco, neste ano, na polícia comunitária, que é muito comum no Japão e que em Minas Gerais tem sido um fator de progresso.

 

Em relação a questão econômica brasileira, o senhor, que é empresário e já esteve no governo acredita que a economia brasileira saiu da zona de perigo, mesmo sem a reforma da Previdência?

Não sou adepto da tese que é defendida por alguns, de que a economia está conseguindo sair do problema desassociando-se dos problemas políticos. Eu acredito que não é por aí. O Brasil precisa é de ter uma política mais clara. Nós precisamos de um direcionamento de país. Tenho sido um crítico e a nossa crítica é muito mais ideológica. Nós temos, na verdade, no Brasil, um projeto de poder. Sou defensor de um projeto de país. Eu já vi países na minha vida profissional que eram muito piores do que o Brasil há três décadas e hoje alcançaram um nível de desenvolvimento muito melhor do que o Brasil e o Brasil, ao contrário, até retrocedeu. Eu defendo que o próximo governo, qualquer que seja ele, terá que ter um pragmatismo muito presente, porque, na verdade, os estados, municípios e o próprio governo federal estão todos hoje em uma situação, do ponto de vista financeiro, calamitosa.

 

Que mudanças deveriam ocorrer?

Defendo que haja pragmatismo. Nós precisamos criar um projeto de país, onde a educação, a saúde, a segurança pública sejam temas colocados como prioritários para não ficarem apenas no discurso. É preciso ter coisas objetivas, concretas. Nós temos que reconhecer que o estado brasileiro está nessa situação de déficit fiscal, então, temos que motivar o setor privado a realmente ser o grande player de investimentos nos próximos anos. E isso, de forma pragmática, só vai acontecer se nós tivermos um país competitivo, se nós tivermos um país que possa dar segurança jurídica aos investidores, que possa dar tranquilidade de retorno aos investidores. O Brasil está saindo de uma crise, e isto nós temos que elogiar, mas se não tivermos um ambiente favorável aos negócios, nós certamente estaremos perdendo oportunidade para outros países. Elogio o fato de que nós estamos conseguindo sair da situação em que estávamos. Mas ainda é insuficiente para o que nós precisamos. O nível de desemprego é muito alto e para que haja a geração de empregos, nós precisamos tornar o investimento no Brasil, que ainda é muito baixo, mais sustentável. Para que o país possa crescer como necessita, nós precisamos de ter um nível de investimento na ordem de 24% a 25% do PIB. Esse número hoje não chega a 15%. E quem é o ator desse investimento? Só pode ser o setor privado. Não há condição de o governo como está do ponto de vista fiscal, ser investidor. Por isso defendo que criemos um ambiente favorável para os negócios. Precisamos recuperar a autoestima, que não está no nível que o Brasil tinha há alguns anos. Mas às vezes o otimismo exagerado também não é bom. Nós temos que ser realistas. Um realista que acredita no futuro. Temos que acabar com esse negócio de que o Brasil não tem jeito e que não há mais esperança de que as coisas vão acontecer. Sempre digo para os jovens que está nas mãos dele mudar. Talvez a minha geração não tenha sido capaz o suficiente de fazer o que deveria ser feito. As novas gerações têm aí uma ótima oportunidade de criar um país diferente e um Brasil que não seja mais o futuro, mas o presente.

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