Para muitos 2020 foi um ano para ser esquecido. A pandemia da covid-19 abalou todo o planeta. Empresas fecharam, as pessoas foram isoladas e o pior, no mundo, a doença matou dois milhões de pessoas, mais de 200 mil só no Brasil. Esse cenário de incertezas prevalece, mas alguns setores conseguiram não só driblar o vírus, como crescer, como é o caso do agronegócio brasileiro. Nesse ano, o setor mais uma vez, teve um desempenho acima da média e evitou que o PIB no país tivesse um desempenho ainda pior. Além disso, avançou por outros países, aumentando as exportações. Mas outros eventos, como a queimada no Pantanal mato-grossense deixou muitas marcas. O presidente da Federação da Agricultura de Minas Gerais, Roberto Simões (foto), no entanto, entende que as queimadas são fenômenos naturais de difícil controle e afetam vários países, não só o Brasil. A produção, no entanto, avançou mesmo com essa tragédia ambiental e há ainda os que acreditam no avanço da produção com a terceira safra.
Técnicos e estudiosos do solo defendem a terceira safra como alternativa para aumentar a produção. É uma saída viável?
A terceira safra é uma dessas qualidades que o país tem e por isso tem essa competitividade mundial. Os países do hemisfério Norte não têm nem a segunda safra, porque ficam praticamente seis meses debaixo de neve. Aqui podemos fazer duas e até três safras e por isso o Brasil sempre será um grande produtor e um alto exportador de alimentos. Vai chegar um momento em que o Brasil será o maior, porque o país é imbatível. É uma dádiva que nós temos.
O ano de 2020 também foi o ano dos grandes incêndios como no Pantanal. Existe essa relação entre os incêndios e a preparação da terra por parte de alguns produtores?
Isso é conversa de quem quer destruir o Brasil. O mundo inteiro tem queimadas, a Califórnia queima todo ano, a Austrália queima todo ano e ninguém fala nada. Nós vamos ter isso todos os anos. É claro que ninguém quer os incêndios, é lógico que nós queremos o mínimo possível, mas são fenômenos cíclicos da natureza. A seca, a baixa umidade, calor intenso, vai aparecer fogo. Isso acontece no mundo inteiro, mas só o Brasil é o culpado. Esperamos que nos próximos anos esses fenômenos aconteçam em menor quantidade. Pode melhorar, mas eliminar e difícil.
Muitos ligam as mudanças climáticas aos incêndios na Amazônia. O senhor acredita que tem ligação?
Também não. Isso acontece há mais de mil anos e é um fenômeno da natureza. O que nós podemos fazer é tentar sermos cada vez mais eficientes, prever mais e controlar mais. Acabar, isso não vai acontecer nunca.
Esse prolongamento da pandemia pode prejudicar o agronegócio neste ano?
Pode sim. Esse é o ano da incerteza. Não se sabe nada. Não se sabe se haverá subsídios para o consumo interno, provavelmente não. Não se sabe se vai continuar essa demanda alta lá de fora, provavelmente pode cair alguma coisa, não se sabe até quando essa pandemia vai, não se sabe quando essa vacina chega, não se sabe em quanto tempo ela vai tornar as pessoas imunes. Nós não sabemos nada deste ano. As primeiras indicações de levantamentos da Conab indicam que nós teríamos ainda uma safra enorme. Os plantios aconteceram, a chuva parece que está razoável. Em alguns lugares está havendo problema, mas na maioria ela está atendendo. Parece que teremos um ano sem grande sucesso, mas sem grandes problemas.
Pode repetir a safra de 2020?
Na verdade, não sabemos nada. Não sabemos como serão as coisas no primeiro trimestre ou no primeiro quadrimestre, só aí nós iremos ter uma ideia de como será o ano. É uma incerteza total, porque são tantos fatores internos e externos, ainda tem as eleições que vem por aí. Ainda está tudo muito confuso. Mas acredito que o agro continuará cumprindo o seu papel, como sempre. Temos alguns problemas, que ainda não sabemos aquilatar, mas seguimos em frente.