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Os muitos problemas que vão desafiar o eleito

Paulo César de Oliveira
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Bombardeado por promessas e discursos sem consistência, os eleitores tentam escolher entre os candidatos à presidência da República, quem possa assumir o controle da economia e da vida dos brasileiros. Entre os muitos problemas a serem equacionados, estão as consequências do envelhecimento da população, uma Previdência que não se sustenta e a necessidade de se aumentar a produtividade da economia garantindo assim os recursos necessários para equilibrar nossas contas. Mas as deficiências na formação de mão de obra e modelo de governo ultrapassado, em crise em várias democracias, são apenas parte de um longo caminho que terá que ser trilhado, segundo o ex-ministro Paulo Paiva (foto). Ele entende que o Brasil precisa ser pensado a longo prazo.

 

As propostas mirabolantes dos candidatos, como a de Ciro Gomes, de tirar todos os endividados do SPC são viáveis?

Todos os candidatos, têm o seu economista. Tem um professor de economia nos Estados Unidos que diz que o economista é o poste do candidato, onde ele se ampara para não cair. Não se sabe o que da fala de campanha vai para o governo. Não necessariamente serão as mesmas pessoas que vão trabalhar no governo. As propostas são muito superficiais, elas tocam em temas, sem levar a um certo consenso. Excluídos o candidato do PT e o Boulos, todos falam da necessidade de que reforma da Previdência avance. Estamos no quinto ano com déficit público, que pressiona a dívida, que está crescendo e isto é insustentável. Olhando para o orçamento da União, 75 a 77% dos gastos é com pessoal ativo e inativo. Vencida a eleição, quem vencer a eleição, terá aí, novembro e dezembro, e em janeiro e fevereiro para ter um programa com uma visão clara do que vai fazer, quais as propostas de reforma, quais são as medidas que serão tomadas a longo prazo, não somente de curto prazo.

 

O que fazer?

 É preciso fazer mais ou menos o que foi feito no governo Itamar com o controle da inflação. Estabeleceu-se o que deveria ser feito, permitindo ao ministro da Fazenda discutir com a sociedade. É um desafio enorme negociar com o Congresso, principalmente quando se depende de reforma constitucional e isso depende de quem será eleito. Se for eleito um presidente que não tiver base parlamentar, terá maior dificuldade para negociar. Historicamente, desde a eleição de Collor, nenhum presidente teve em seu partido os votos suficientes, ou pelo menos um terço dos parlamentares, que é o necessário para não ter impeachment. A negociação política com o novo Congresso, e nós não sabemos quem será o presidente e quem serão os parlamentares, é crucial para que se saiba o que se vai fazer, independente de quem for eleito. Há necessidade de uma conversa séria e positiva com o Poder Judiciário e com o Ministério Público para desjudicializar a política, porque se o presidente entra no governo com a Justiça autorizando pessoas da classe média a se tratarem em um hospital em Houston, deixando os pobres sem acesso ao SUS, isso não ajuda em nada o país, com essa quantidade de ações que existem hoje, criando dificuldades para o Poder Executivo. Existem mais incertezas do que certezas em relação ao que deve ser feito.

 

Durante quanto tempo o próximo presidente, seja ele quem for, será um mero gerente de crise?

Essa é uma questão muito interessante. Li um livro recente, de Manuel Castells, que trata da crise na democracia ocidental, que é exatamente sobre este tema. Independentemente do que ocorre no Brasil, há uma crise com a democracia representativa, que é muito mais profunda e abrangente. O modelo de representação política dos partidos, que no fim do século XIX representava interesses e aspirações de classes sociais, que é a Social Democracia; que tinha o Partido Socialista, o Partido Comunista, que representavam os interesses dos empregados, que é basicamente da indústria, e se tinha os partidos mais conservadores, que defendiam os interesses dos proprietários, no caso da Inglaterra, dos nobres, foi perdendo o sentido ao longo do tempo. Depois da Segunda Guerra Mundial passou a ter um aumento da classe média, uma nova divisão social do trabalho.1968 foi de mudanças de costumes e se percebeu mais a diversidade, tendo interesses muito mais difusos na sociedade e os partidos não representam mais e aí surgiram outros partidos, como o Partido Verde e as agendas mudaram.

 

Os partidos acompanharam essas mudanças?

A agenda do Partido Democrata, nos Estados Unidos, e o Partido Trabalhista, na Inglaterra, mudaram o que foi chamada a terceira via, que aqui no Brasil, Fernando Henrique Cardoso tentou seguir no mesmo caminho. Pegando os Estados Unidos, essa agenda do Partido Democrata, que era do tema das adversidades e deixando os temas sindicais de fora, levou a eleição do Trump, que pegou essa agenda, que é ultrapassada, no sentido de que não tinha mais tanto peso, no caso dos Estados Unidos, porque está mudando a tecnologia e são essas mudanças tecnológicas que estão fazendo uma profunda modificação na maneira de comunicação e na forma como que os governantes se comunicam com os eleitores. Mas basicamente, a tese do Castells é a de que há uma ruptura entre governantes e governados. Se não se recuperar isso, não se supera a crise. Dependendo, o próximo presidente vai viver com a crise até que se tenha uma solução, que não é só brasileira.

 

Essa curva etária complica mais ainda a recuperação?

Não sei se complica. No caso do Brasil não é a mudança etária, mas é o crescimento, olhando a longo prazo, complica bastante, porque o crescimento da economia, a taxa de crescimento pode ser dividida em dois componentes: o crescimento da população, que é o número de pessoas no mercado de trabalho, e o crescimento da produtividade no seu sentido mais amplo, a produtividade do trabalho tem a ver com educação, a produtividade do capital, o impacto da tecnologia. O Brasil entre 1950 e 1980 teve um crescimento de 7%, que dividido por aí, se tem 2,8% de crescimento da população, e 4,2% da produtividade. De 1980 até 2015, esses 7% caíram para 2,5%, que dividido, é 2,2% de crescimento demográfico e 1,3% de crescimento da produtividade. Olhando para a frente, o IBGE diz que o ano que a população vai deixar de crescer será 2047. Mas dada a estrutura etária, a população que entra no mercado de trabalho vai parar de crescer antes. No final de 2030 não vai ter mais aumento demográfico. Conclui-se que o nosso crescimento estará única e exclusivamente dependente do crescimento da produtividade, que hoje é de 1,3%, que é dos mais baixos. O grande desafio é o crescimento, que um governo de quatro anos não resolve, mas pode demarcar o rumo.

 

Tecnologicamente nós estamos muito atrasados?

Sobre nós está caindo uma tempestade chamada quarta revolução industrial, que é a revolução digital, que é uma coisa extraordinária. Nossa mão-de-obra tem baixa produtividade para a base tecnológica que nós temos. Com a robotização, com a inteligência artificial, todas essas coisas alteram tudo. O futuro é bastante desafiador.

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