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Oscar Dias Corrêa na visão dos filhos

Um jurista, político, magistrado, membro da Academia Brasileira de Letras e, acima de tudo, um apaixonado pelo Brasil e sua Itaúna. Oscar Corrêa era tudo isso e muito mais segundo seus filhos Oscar Corrêa Jr (foto) e Ângela Corrêa Fernandez. Nesta segunda-feira o homem de cultura refinada, de discursos acalorados e conversas sinceras estaria completando 100 anos. Ele morreu em 30 de novembro de 2005. Para quem não o conhecia, ele se apresentava como antimarxista, antissocialista e anticomunista e afirmava que “só não sou anarquista porque não posso. Meu desejo era ser anarquista, mas como a sociedade não dispõe ainda de condições para ser anarquista, sou neoliberal, neocapitalista” 

Na visão do filho, o homem Oscar Corrêa, o que representou no tempo dele?  

Papai sempre foi absolutamente contemporânea, ele sempre teve uma visão muito boa do momento em que ele estava vivendo. Pela experiência que ele tinha, ele adquiriu uma capacidade de prever avanços, que necessariamente aconteceriam no futuro. Não vou dizer que ele era um visionário, ele era um homem com os pés no chão, mas ele tinha essa virtude. Ele visualizava bem o quadro geral presente, com projeção futura. Nós vemos muito isso em textos dele, em escritos e pronunciamentos dele. O discurso dele despedindo-se da vida pública, em 1966, é absolutamente atual, porque os comentários e as críticas que ele faz ao processo político de então, são absolutamente adequados e adaptados ao mundo de hoje. Da mesma forma, em termos literários, os estudos que ele fez, os projetos que ele tinha, as preocupações que ele tinha e essa é uma grande qualidade dele. Ele soube ver bem o presente que ele vivia na época, o que era palpável para ele, com uma perspectiva muito boa de futuro.   

O que ele falaria desse cenário político?  

Com certeza, ele estaria triste. Ele lamentava as coisas que estavam acontecendo, na medida em que o tempo ia passado e as coisas iam ocorrendo. Ele também tinha consciência exata de que o momento era outro, as pessoas eram outras e o mundo era outro. Imaginar que os homens, os costumes, os hábitos, a ética e a moral fossem os mesmos de 40, 50 anos atrás, ele tinha consciência de que esse é um negócio que não poderia acontecer, porque as práticas e costumes eram outros. Mas com certeza, ele estaria muito preocupado com tudo o que está acontecendo. Não sei se ele teria o remédio para isso. Não sei se teria remédio para essas coisas todas, até porque não basta o médico receitar, o paciente tem que aceitar também. O problema nosso de hoje, ter alguém para indicar o que você deve fazer faz muita falta no Brasil de hoje. Mas é, principalmente o de as pessoas saberem que elas têm que tomar remédio. Um exemplo prático, usar máscara. Não basta o médico recomendar que você use máscara, será que todo mundo usa? Usava-se muito o exemplo do cinto de segurança. As pessoas eram obrigadas a usar o cinto de segurança.  Não basta receitar o remédio, as pessoas têm que estar dispostas a tomá-lo.   

Para os filhos, quais ensinamentos foram mais importantes?  

Muitos. O da ética, da moral, da retidão de caráter, da justiça. Papai era um homem justo. Esse sentimento é muito bom. Isso massageia o nosso ego e conforta os nossos corações. Papai morou no Rio de Janeiro uma boa parte da vida dele. Se ele foi à praia umas duas vezes na vida, isso foi muito. Ele não era um homem de praia, de cinema, não era um homem de lazer. Não era de tomar um chopinho no bar da esquina, não era da natureza dele. Ele era um homem intelectual. No tempo disponível dele ele escrevia, ele não era desses pais que vão para a piscina, essa não era a natureza dele. Mas os exemplos, as lições dele, foram de saber que poderemos ir à qualquer lugar dizendo de quem nós somos filhos, de quem você é neto e isso é muito importante.  

Ele era introspectivo?  

Ele não era introspectivo. Ele lia muito, mas era absolutamente aberto, leal, um homem de debate. Quando eu era deputado federal, em Brasília, ele era ministro do Supremo, depois ministro da Justiça e eu morava na casa dele. A minha mulher e meus filhos não moravam em Brasília. Era muito comum eu chegar à noite da Câmara, ir para o escritório dele e conversar. Ele era político, ele tinha essa formação. Ele adorava a boa política, ele conhecia bem e tinha uma convivência partidária enorme. Nós conversávamos muito. Das minhas coisas da Câmara, discutíamos o dia a dia, porque era uma época muito viva no Brasil, isso de 1982 a 1990. Foi fase muito fértil, em termos de política no Brasil. O fim do governo militar, a Constituinte, a redemocratização do Brasil. Ele também falava comigo das inquietudes dele, das causas, dos julgamentos, o entendimento dele. A minha mãe também participou de todas as grandes decisões do meu pai. Foi um amor eterno, enquanto os dois estiveram juntos.  

O Supremo na época era diferente do Supremo de hoje?  

Os homens eram diferentes e, obviamente, a corte era também. Os homens são diferentes, o tempo é diferente e é claro que o Supremo tem que ser diferente. Diria que o STF era mais harmônico. Toda corte Constitucional é jurídica, mas tem um componente político, não para fazer política, mas para avaliar o quadro nacional. Tem que adaptar o que está no texto constitucional para aquilo que deve ser a melhor interpretação dada pelas pessoas. Essa visão maior é uma visão política. Havia divergência grandes no Supremo e indiretamente nós percebíamos. Mas não faziam como hoje. O ministro guardava as suas decisões. Ele tomava as dores do Supremo, mas não discutia em público as decisões da corte, como acontece hoje. Isso deve ser reflexo dessa modernidade do Supremo. As decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos não são televisionadas. Aqui não.  Aqui tudo vira um grande espetáculo.    

Se você pudesse homenageá-lo hoje, o que diria a ele?   

Ele é uma grande inspiração para nós. Homenagear meu pai é uma coisa que faço com muito orgulho. Eu e os meus. Ter o nome dele para nós é um privilégio. Lamentamos que ele tenha ido. Fica uma dor grande, que vai se transformando em uma saudade. Se nós soubéssemos valorizar os nossos homens públicos, possivelmente, a nossa história seria mais bem escrita e lembrada. São muitos, não só o meu pai. Não posso deixar de dizer que ele tinha uma convicção de que as coisas iriam se resolver. Isso em função de uma fé extraordinária que ele tinha. Ele era muito católico e tinha uma fé extrema. Ele também era um apaixonado e tinha uma enorme fé no país dele. Ele sempre acreditava que o Brasil iria resolver todos os seus problemas, todos os seus impasses, em que pese os homens. O país é muito grande e para ele, ia acabar saindo bem de qualquer dificuldade. Era um otimista em tudo. Era um apaixonado pelo país pela terra dele, Itaúna. Ele achava que era o princípio, o meio e o fim. A grande Itaúna incluía Belo Horizonte, Divinópolis, era um apaixonado pela cidade.  

2 thoughts on “Oscar Dias Corrêa na visão dos filhos

  1. Que bonita homenagem ao Ministro Oscar Correa ! Deixou um legado jurídico e literário de grande valor . A herança deixada aos seus filhos de ética, moral e conduta se retrata na cordialidade deles . As lições sobre política ainda ressoam àqueles que bem a querem fazê-la ……. muito importante lembrar os que aqui deixaram dignidade e honradez .

  2. Merecida a homenagem ao centenário do nascimento do grande Oscar Dias Corrêa. Como jurista e político será sempre lembrado como dialético nas análises e cartesiano nas ações: aberto a opiniões e discussões, era positivo e firme nas ações! Como “o DNA não nega”, o seu exemplo de ética, moral e justiça se perpetua em Oscar Junior e Ângela, filhos cultos e brilhantes que ele e Dona Diva tão bem souberam criar. E vai além, agora com a geração dos netos abraçando novos sonhos e conquista.

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