Os biocombustíveis tiveram um avanço nos últimos anos e a expectativa é a de que com a implantação do Renovabio, esse salto seja ainda maior. A questão é que ninguém sabe se Jair Bolsonaro continuará com a implantação do programa, que faz parte do acordo de Paris para a diminuição da emissão de gases poluentes na atmosfera. O presidente da Siamig, Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, Mario Campos (foto), acredita que o setor tem muito espaço para crescer no mercado interno e externo.
Como fica o Renovabio com o novo governo?
Nós estamos com uma expectativa muito grande de que o Renovabio efetivamente possa ser implantado. Pela legislação, em janeiro de 2020, nós teremos o primeiro certificado emitido. Durante o governo Temer, nós conseguimos a aprovação da lei, a emissão do decreto e a regulamentação de como as empresas serão certificadas no seu ciclo de vida, no seu ciclo de carbono para a produção dos biocombustíveis e conseguimos a meta global. Agora faltam as metas individuais das distribuidoras e também a parte financeira para ver como será a regulamentação do próprio certificado, quem vai poder comercializar, com quem, como será o ambiente de comercialização. Está sendo tudo elaborado e isso ficou para o novo governo. O Renovabio nasceu no Ministério de Minas e Energia, chefiado pelo almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, que está recebendo uma pauta ampla e vai de minério a petróleo, até os biocombustíveis e energia nuclear. O fato é que nós estamos muito bem embasados que, o país voltando a crescer, tem-se uma necessidade de combustíveis. Hoje o país é um importador de diesel, importador de gasolina e o etanol faz parte dessa matriz de combustíveis que faz hoje com que o país ande. Ande de carro, lembrando que o Renovabio não é só etanol, é biodiesel e ande de carro, de caminhão para que os produtos possam ser transportados. Nós temos uma grande expectativa de que o Renovabio será implantado. É claro que existe uma grande discussão sobre a origem do Renovabio, que é lá no acordo de Paris. Nós sabemos que estão acontecendo muitas discussões internas no novo governo para saber como será a política ambiental do Brasil.
Isso assusta os empresários?
Como integrantes agronegócio brasileiro, nós sabemos que os nossos produtos são sustentáveis. Nós somos favoráveis à manutenção do acordo de Paris, não só pelos biocombustíveis, como também pelos nossos produtos agrícolas. O acordo de Paris foi um avanço no mundo e nós precisamos mantê-lo no Brasil, até mesmo porque o Brasil tem uma meta voluntária que é fácil de cumprir, porque a base é 2015, e o grande ponto é a redução do desmatamento, o que ocorreu nos últimos anos, e a substituição do mercado de energia, de energia fóssil por energia alternativa. O Brasil tem essa capacidade, essa possibilidade porque o Brasil tem etanol e outros países do mundo não têm. Aqui tem biocombustíveis, tem biodiesel, quem sabe no futuro poderemos ter bioquerosene para a aviação.
O mercado internacional se apresenta como uma boa perspectiva?
Nós somos totalmente inseridos no mercado internacional e um dos nossos pleitos junto ao novo governo é que tenhamos uma defesa mais forte dos produtos brasileiros. Nós somos produtores não só de biocombustíveis, mas também de açúcar. Nós somos os maiores exportadores de açúcar.
Quais são os maiores concorrentes do Brasil?
Na produção de açúcar nós temos como maior concorrente a Índia, que é um grande produtor, mas não é um grande exportador. Temos a Tailândia como grande produtor e grande exportador e tem ainda a União Europeia. Hoje a Índia faz uma política interna populista, de incentivar os indianos a plantar cana de açúcar, pagando um subsídio e, com isso, a produção de açúcar na Índia hoje, é muito maior do que ela consome. Ela tem um excedente muito grande e tem feito com que os preços internacionais fiquem deprimidos. O ano de 2018 foi um ano muito ruim para o açúcar.
E os biocombustíveis?
O biocombustível é um outro produto e nós temos um novo panorama. O etanol, o biocombustível, é misturado no combustível fóssil em mais de 40 países ao redor do mundo. Só aqui perto do Brasil, a Argentina mistura, a Bolívia recentemente anunciou a mistura, a Colômbia. Os Estados Unidos são o maior produtor de etanol do mundo, a partir do milho e eles tem 10% da gasolina na mistura com o etanol. Há uma possibilidade muito grande desses países misturarem, cada vez mais, biocombustíveis no combustível fóssil. A própria agência internacional de energia disse recentemente que o que mais vai crescer é justamente o consumo de biocombustíveis.
O biocombustível também vai chegar à aviação?
A bioqueresene ainda é muito incipiente. Existem programas e um acordo internacional, onde as companhias aéreas precisam reduzir as suas emissões e o bioquerosene entra como uma possibilidade. O biocombustível é algo que agrega o setor agrícola ao setor energético e o Brasil tem isso como vocação como grande produtor de energia e grande produtor de agro.
A disparada do preço da gasolina aumentou o consumo de etanol no Brasil. É possível manter essa produção e preço por mais tempo?
A questão de preço é uma questão de mercado. Hoje o preço do etanol no Brasil depende do preço do petróleo. A política é bem clara, e inclusive, isso é um dos pilares e, na nossa visão, e já temos sinais disso, o governo de Jair Bolsonaro vai manter esse link com o mercado internacional. O petróleo subiu lá fora, o preço da gasolina sobe aqui no Brasil e pode-se ter toda a potencialidade, a possibilidade de vender o etanol mais caro. O petróleo caiu lá fora, a gasolina cai no Brasil e nós temos que vender o etanol mais barato. Depois do mês de outubro nós tivemos uma queda de 25% no preço do petróleo no mercado internacional, a gasolina tende a cair, a Petrobras já fez as reduções, ainda não chegou nas bombas e aí, o próprio mercado de etanol, mesmo entrando na entressafra também caiu. Nós temos potencialidade de ofertar mais? Com certeza, temos terra disponíveis no Brasil. Nós temos um grande desafio de aumentar a produtividade. Nós temos uma dispersão muito grande entre a usina mais produtiva e a menos produtiva e temos condições de pegar essa menos produtiva e elevá-la para um patamar maior. Por isso o Renovabio é importante, porque gera uma perspectiva de uma receita adicional e uma solução financeira para a empresa. Tendo previsibilidade, quando se olha para o mercado futuro de petróleo, que é esse link com o mercado interno, as empresas têm condições de pelo menos vislumbrar preços ou a tendência dos preços futuros, assim como o açúcar, que tem um mercado futuro muito bem consolidado.
Nos carros elétricos, como o etanol entraria?
Tenho dito que o futuro é o carro elétrico. Que tipo de motorização é essa? Um carro híbrido você alia o motor a combustão com o motor elétrico. Está vindo o híbrido flex. Hoje no Brasil nós só temos o híbrido a gasolina e teremos, já já, o híbrido flex, que é uma possibilidade muito interessante para o consumidor. Estimo que possamos dobrar a média que nós temos de quilômetros por litro de etanol, com o híbrido flex. Talvez nós possamos dobrar a nossa performance e isso vai dar uma sustentação muito grande ao mercado.