Logo
Blog do PCO

Produtores ainda querem tirar mais da cana

A energia limpa e renovável está na pauta da ONU como alternativa para diminuir a emissão de gases de efeito estufa. De olho nessa agenda, as indústrias sucroenergéticas têm tirado da cana muito mais do que açúcar e etanol. Com uma tecnologia inovadora e com os olhos voltados para o futuro, os empresários do setor têm investido alto não só na produção do etanol e açúcar, como também na geração de energia elétrica. Esse investimento tem permitido a produção de 2 mil gigawattz de energia, o suficiente para abastecer um milhão de casas, segundo o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, Siamig, Mario Campos (foto). O processo de produção aproveita tudo na cana. Mas o futuro reserva muito mais para essa planta.

 

A energia gerada a partir da cana de açúcar é uma opção sustentável?

Esse setor é muito estratégico para a economia brasileira, não só por fornecer um produto limpo e renovável, mas pela sua característica de ser sustentável mais amplo. Esse setor tem uma capilaridade impressionante. Nós estamos em mais de mil municípios. Nesses mil, temos 70 mil agricultores que colhem cana e fornecem para as unidades industriais. Além disso, temos quase 17% da matriz energética brasileira fornecida pelo setor, a partir do etanol e pela bioeletricidade. É uma participação relevante. Na matriz energética brasileira nós somos a principal fonte de energia renovável.

 

Como é esse processo da bioeletricidade?

Nós temos hoje o bagaço de cana, que é subproduto da produção. Nós moemos o bagaço e do bagaço nós produzimos a bioeletricidade. Essa transformação acontece nas próprias usinas. A energia gerada do bagaço é usada nas usinas para produzir açúcar e etanol. Nós não compramos energia. Nós usamos a nossa própria energia e vendemos o excedente. Nós temos hoje 8% da capacidade instalada da produção de energia elétrica de Minas Gerais. Uma parte dessa capacidade nós usamos gerando energia para tocar a fábrica. De 4 a 5% de toda energia elétrica produzida em Minas Gerais vem do setor sucroenergético. Isso leva a indústria a ser ainda mais sustentável.

 

Se o setor pagasse pela energia elétrica seria um complicador para manter o custo da produção de açúcar e etanol?

Não tenha dúvida. O fato de gerarmos nossa própria energia dá uma competitividade aos nossos produtos.

 

Como funciona esse mercado de energia?

Nós temos um mercado que é regulado pela Aneel, ONS e o próprio Ministério de Minas e Energia, que faz os leilões. Essa energia que nós geramos pode tanto ser vendida no mercado livre, como no mercado regulado. Nós vemos hoje no Brasil um crescimento cada vez maior do mercado livre. Lá na frente nós vamos ver a utilização do tipo de energia que se compra para um produto final como marketing para aquele produto, ou seja, nós temos com a cana uma energia limpa e o etanol é um produto utilizando energia renovável. Tenho certeza que nós vamos avançar, aos poucos, no Brasil e essas questões ligadas a sustentabilidade tem ganhado força.

 

Essa é uma alternativa para evitar o apagão?

O mercado regulado é um mercado de leilão e como energia elétrica não se estoca, ou se estoca a partir de baterias, que é muito caro, é preciso produzir e ter o consumo do outro lado. O governo tem que ter um planejamento antecipado da produção dessa energia, senão ocorre o apagão, como aconteceu em 2001, ou uma possibilidade de racionamento, como nós tivemos na iminência por várias vezes nos últimos anos. O fato é que ao se fazer o leilão, se antecipa para o mercado quanto vai ser produzido, para se preparar para daqui há cinco anos você entra e vende a energia. Esse setor tem uma característica estratégia para o país importantíssima. Mas a questão principal, além da questão da energia renovável e limpa, é promover o desenvolvimento econômico e regional do país.

 

E em relação ao mercado externo?

Mercado externo é basicamente açúcar. Hoje nós temos uma condição de mercado externo muito boa. O maior comprador de açúcar do Brasil é a China, mas temos grandes clientes no Oriente Médio e norte da África. O Brasil produz um açúcar, que chamamos de VHP, que será processado lá fora, transformado e refinado. O açúcar é um dos produtos que mais enfrenta barreiras e no passado se desenvolveu essa plataforma de exportação, com base na agregação de valor nesses países para possibilitar a exportação. Nós exportamos para grandes refinarias no mundo, que pegam o açúcar brasileiro, que é reprocessado, transformado e refinado. Esse é o principal mercado do açúcar brasileiro.

 

Qual o peso da exportação na produção?

Nós produzimos 37 milhões de toneladas e vamos exportar 2/3 disso. Minas Gerais é o segundo maior produtor de açúcar e o terceiro maior produtor de etanol e de cana. Em geração de energia nós somos o terceiro, com 2 mil gigawattz/h, que colocamos no sistema atualmente, o suficiente para abastecer um milhão de residências. O importante é que os nossos dois produtos: o etanol e a bioeletricidade são muito interessantes para a agenda ambiental. Nós produzimos energia a partir do caldo da cana, que é 1/3 da energia contida nela e produzimos energia elétrica a partir do bagaço, que é outro 1/3 e tem 1/3 que é a palha da cana, que hoje, nós podemos colher e produzir energia. E nós também podemos dizer que esse é um tipo de energia solar. Isso a partir do ciclo de vida, do seu ciclo de produção. Nós temos um combustível de ciclo de carbono neutro, nós temos uma planta, que se renova. Eu posso plantar a cana novamente, ela se renova-, e no processo produtivo ela faz, a fotossíntese, tira o CO² do ar e emite oxigênio. Com a bioeletricidade, nós temos várias formas de produzir a energia com maior e menor “pegada” ambiental, dependendo da quantidade de CO² que se deixa de emitir.

 

Esta é a energia do futuro?

Um outro aspecto que nós temos que observar nesse mercado e temos que ver lá na frente, diz respeito ao futuro do automóvel. Existe atualmente uma onda do carro elétrico e do carro híbrido que vai entrar no mercado daqui há alguns anos. Com eles surge uma possibilidade de aumento do uso do etanol. Existe a possibilidade também do carro com células de combustível. O que é isso? É uma tecnologia que existe há bastante tempo, que, a princípio, pretendia-se produzir energia a partir da água. Agora, procura-se produzir energia com o etanol, que é uma cadeia de CO² e hidrogênio. No protótipo que a Nissan está desenvolvendo e trouxe nas Olimpíadas do Rio, o carro é abastecido com o etanol e há um separador de hidrogênio, que é o combustível para a célula de hidrogênio, que, por sua vez, vai movimentar o motor elétrico. Esse pode ser o carro do futuro porque ele é muito mais leve e tem manutenção mais fácil do que o motor a combustão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *