O coronavirus mudou a rotina do brasileiro. Os que foram obrigados a se isolar em casa temem pelo desabastecimento e pela sua sanidade mental devido a reclusão forçada. Os que estão trabalhando querem ficar em casa, temendo serem contaminados. Mas alguns setores não param. Assim como os funcionários da área de saúde, os do setor de transporte também fazem um esforço para atender as recomendações dos governos estaduais e o federal para manter o transporte público higienizado e na outra ponta, para garantir que os alimentos cheguem nas gôndolas dos supermercados. O presidente da Confederação Nacional do Transporte, Vander Costa, disse (foto) que os empresários do setor têm se esforçado para manter os serviços e aguarda o decreto que pode amenizar a situação do setor.
Como está a situação do transporte desde as primeiras medidas para impedir o avanço do coronavirus no país?
A CNT tem acompanhado desde o início, junto com as empresas e com o governo federal, mais especificamente com o Ministério de Infraestrutura. Em um primeiro momento houve uma queda muito grande no transporte de passageiros, até por determinação para que as pessoas circulem menos. A atitude dos empresários foi a de tomar todo o cuidado possível de higienização dos veículos dos transportes de passageiros.
Qual o prejuízo que as empresas estão calculando nesse primeiro momento?
Hoje já está com uma queda de quase 50% dos passageiros e a tendência é a de chegar até 60 % em São Paulo, que é o objetivo do governo. Os custos das empresas permanecem na mesma proporção, porque você vai ter que manter motoristas contratados, infraestrutura para caminhão e outros custos da estrutura da empresa que são muito pesados. Nós esperamos que tudo seja contornado no menor prazo possível. A expectativa é de que a partir de 15 dias já comece a normalizar.
O abastecimento fica comprometido também?
No setor de carga houve queda, mas todas as empresas já estão empenhadas em garantir o abastecimento. Está tendo o treinamento de motoristas para fazer a prevenção, incluindo os itens de higienização. Vai ter uma queda grande também na carga, mas uma queda mais no insumo, naquilo que não é consumido. O transporte de minério deve cair, o transporte de ferro e aço, mas estamos com o foco de garantir o abastecimento nos hospitais e nas áreas de alimentação e saúde. Não vai faltar caminhão para transportar essas mercadorias. Estamos trabalhando junto com a Associação de Supermercados e a própria indústria de alimentos e de produtos farmacêuticos estão trabalhando a todo vapor para garantir o atendimento aos contaminados e para garantir o abastecimento dos itens de limpeza, que são fundamentais. Estamos conscientizando os governos estadual e federal de que para manter os alimentos nas gôndolas é preciso manter toda a cadeia produtiva. Houve um decreto em Santa Catarina proibindo o transporte de ração. Vou transportar o frango pronto para os abatedores e para os mercados. E depois que acabar daqui a 4 ou 5 dias? Vai ser preciso de mais frango para continuar levando alimento para o povo. Nós temos trabalhado e temos conseguido sensibilizar. Tem alguns decretos proibindo o transporte de carga, mas temos conseguido com um dia ou dois reverter isso, na base da conversa. A CNT, com sindicatos e federações, tem conseguido êxito. Estamos tendo todo o cuidado e prevenção para que isso acabe o mais rápido possível com essa guerra contra o coronavirus. Não podemos ter pânico. Temos que ter os pés no chão e olhar tudo isso sempre com tranquilidade, que é o melhor para todos.
Os produtos para exportação é que estão sendo prejudicados?
Não, esses produtos também estão sendo transportados. Nós estamos tentando manter a economia ativa. Em termos de mercadorias, não está tendo nenhuma restrição. Vai cair o volume de carga porque está tendo menos consumo, o que é natural. Eu não consigo reabastecer os shopping centers e lojas de confecção porque ninguém comprou neste período. As exportações continuam. Os motoristas estão todos conscientes de que na hora em que estão dirigindo, eles estão confinados e por isso eles são orientados a higienizar as cabines com álcool, o volante, as maçanetas. E vida que segue, porque temos que trabalhar para abastecer o Brasil.
Houve pânico de parte da população com medo de ficar sem abastecimento. Não há esse risco?
Não, não tem. Houve a divulgação pela imprensa de uma correria, uma histeria no exterior. A indústria brasileira está produzindo e nós estamos transportando. Os supermercados estão recebendo mercadoria. O álcool gel é um problema, porque está sendo difícil atender a uma demanda tão grande. Liberando o álcool líquido e aumentando a fabricação melhora. Aí vai faltar vasilhame. Aí o governo autoriza a farmácia de manipulação a fazer sem pedido médico. Tem uma grande rede que vende o produto pronto e o produto manipulado. Se não tem pronto, o produto é manipulado e entregue em 3 dias. Esse tipo de coisa pode ser mais divulgado para acabar com o pânico. A prevenção é necessária e encaramos o problema como uma guerra.
O setor está funcionando dentro do previsto para esse momento?
Está funcionando. Houve uma diminuição no número de passageiros, porque é necessário que o passageiro transite menos neste momento. Os decretos que têm sido publicados são para que essa situação fique até 15 dias. Em outros países é 60 dias.
As empresas têm que estar preparadas para aguentar essa situação em até 60 dias?
É por isso que estamos aguardando as medidas do governo, como a de prorrogação do prazo de pagamento de tributos, com os bancos abrindo a possibilidade de renegociar as dívidas, dando um novo prazo de carência.
Vai ter demissão no setor?
Nesse primeiro momento não. Estamos aguardando o decreto permitindo a redução de caga horaria e salário. O grande esforço é para manter o empregado qualificado dentro das empresas. Tenho confiança de que passando esse problema do novo coronavirus a economia volta ao normal. O grande desafio das empresas é ficarem vivas até o final dessa crise.
São quantas empresas e quantos empregados no setor de transportes?
A CNT representa cerca de 850 mil empresas, com predomínio das pequenas e médias empresas, com 1,8 milhão de empregados. Hoje no setor de carga têm muitos pequenos empresários, os autônomos que estão com CNPJ.