Algumas atividades da economia percebem com mais clareza e rapidez o que acontece na economia do que outras. Este é o caso das empresas que fornecem Vale Alimentação e Refeição. O diretor de estabelecimento da Sodexo, uma das três maiores empresas do setor, Antônio Aguiar (foto), percebeu as turbulências bem no início da crise em 2014. Segundo ele, quando uma empresa demite funcionários, o valor que ela credita em benefícios para o funcionário diminui. O inverso acontece quando a economia vai bem, porque muitas delas entendem que os Vales Alimentação e Refeição são um diferencial para estimular um funcionário.
Diante das dificuldades enfrentadas pelo brasileiro, o Vale Alimentação e o Vale Refeição viraram moedas?
Na verdade, não é uma moeda, esse é um benefício dado pelas empresas regido pelo Programa de Alimentação do Trabalhador, que é incentivo ao funcionário para ele se alimentar, levar a comida para casa. É um grande incentivo dado aos trabalhadores, uma forma de reter o funcionário, uma forma de mantê-lo motivado, engajado e tem uma grande importância para o setor varejista, porque é um dinheiro carimbado para ser utilizado no varejo, nos restaurantes ou nos supermercados.
Atualmente todas as grandes empresas particulares e públicas oferecem esse benefício?
São dois modelos: são os que oferecem por uma obrigatoriedade sindical, onde as empresas são obrigadas a fornecer o Vale Alimentação e o Vale Refeição para os funcionários e tem aqueles empresários que acreditam que proporcionar esse benefício para o funcionário será um diferencial para engajá-lo e retê-lo.
Os Vales Refeição e Alimentação são hoje um termômetro do que acontece na economia?
Sem dúvida. Apesar de ser um dinheiro carimbado para o varejo, ele está completamente ligado ao emprego. Quando se tem algum problema na economia, uma crise que gera desemprego, nós automaticamente percebemos pelo volume de crédito emitido ao mercado. Quando uma empresa demite funcionários, o valor que ela credita em benefícios para o funcionário diminui. O contrário também acontece, quando as pessoas passam a contratar mais, quando as empresas estão crescendo e aumentando o número de funcionários percebemos que aumenta o número a demanda pelo produto Vale Refeição e Alimentação.
Como esse momento da economia está sendo percebido?
Eu diria que estamos voltando a crescer, a economia está aquecendo. Nós temos percebido que muitas empresas estão fazendo investimentos, ampliando suas atividades e isso reflete na contratação de novas pessoas. Diria que estamos saindo daquela crise que começou há alguns anos.
No começo da crise, em 2014, houve uma sinalização de que a economia pioraria muito?
Nós estamos entre as maiores empresas do mercado, então sentimos muito nesse momento da crise, com a redução do número de funcionários, mas por outro lado, nós temos uma equipe de venda de mais de 300 vendedores espalhados pelo Brasil, conquistando novos clientes diariamente. Nós temos crescido ano após ano, claro que em um montante diferente do que crescíamos há cinco ou seis anos, mas tivemos uma desacelerada no nosso crescimento.
E a expectativa em relação ao governo Bolsonaro?
Eu diria que neste momento o empresariado tem tido um pouco mais de confiança no Brasil, sem ser partidário. Eu percebo e é uma conversa que tenho com varejistas de restaurantes e supermercados, é perceptível como os maiores estão com apetite de abertura de novas lojas e investimentos. As 20 ou 30 maiores redes do Brasil estão abrindo ampliando a quantidade de lojas, com 4 a 5 inaugurações por ano.
Apesar desse otimismo a previsão de crescimento do PIB desse ano é muito baixa. Existe um culpado para esta situação?
Eu diria que no fundo nós estamos com o país ainda muito polarizado. A mudança do governo Dilma para o Bolsonaro ainda é muito recente e diria, que aos poucos as pessoas vão adquirindo mais confiança para investir no país. Essa disputa mostra que no próprio Congresso Nacional há uma disputa muito grande. O que estamos vivendo no Congresso é um reflexo da sociedade. Ter aprovado em primeiro turno a reforma da Previdência no Senado já nos dá um horizonte maior de crescimento da economia.
O que esperar da reforma tributária?
A reforma tributária virá para simplificar a vida dos brasileiros. O Brasil vive um processo tributário diferente de qualquer outra nação mundo afora. A nossa expectativa é a de que a reforma tributária venha simplificar a vida do empresário e dar mais apetite de crescimento a ele.
Qual a análise desse primeiro ano de governo Bolsonaro?
Estou surpreendido com o alto grau de rejeição que o governo Bolsonaro tem tido. Não tenho dúvida de que a equipe montada por ele é ímpar, de pessoas extremamente capacitadas, preparadas para enfrentar esse desafio que estamos vivendo, mas no próprio governo falta um ajuste entre eles mesmo, nos próprios dizeres do Bolsonaro frente a atuação da equipe dele.
A equipe é boa, mas o presidente atrapalha?
Não diria que atrapalha, mas ele poderia ajudar um pouco mais.