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Adaptação a um novo tempo

Paulo César de Oliveira
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O longo período de isolamento, como consequência da pandemia da Covid 19, mudou hábitos, conceitos e até a forma de demonstrar religiosidade. O presidente da CNBB e Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor de Oliveira Azevedo (foto), disse que a Igreja também teve de se adaptar a esse tempo, segundo ele, marcado pela dor e pelo luto. Mas disse que a diretriz da Igreja é a de respeitar a ciência e agir em sintonia com as autoridades municipais.

A pandemia da Covid-19 mudou a relação dos fiéis com a Igreja?

A pandemia da COVID-19 impulsionou a Igreja na adoção de novas práticas e operações no serviço ao Povo de Deus, instituindo renovadas formas de participação na vida eclesial, com a aceleração dos processos de digitalização. A grave crise sanitária, tristemente, estabeleceu um tempo marcado pela dor e pelo luto, com consequências para a saúde emocional e espiritual das pessoas. Trata-se de uma desafiadora travessia, ainda em curso. Dessa experiência dolorosa, a Igreja – Povo de Deus – está se fortalecendo, exigida a oferecer respostas novas, contemporâneas, e vem criando novos modos de servir. Torna-se, assim, cada vez mais presença que leva amparo às pessoas e contribui neste exigente e urgente processo de reconstrução da sociedade. Com a pandemia, exemplarmente em sintonia e diálogo com as diretrizes das autoridades públicas em saúde, a Igreja adotou protocolos para proteger a saúde dos fiéis, com práticas e procedimentos que favorecem a adoção de um novo estilo de vida, exigência também para toda a sociedade. Ao mesmo tempo, de modo missionário, levou amparo aos que mais sofrem as consequências da crise, especialmente nas vilas e favelas.

Como?

A Igreja no Brasil promove a ação “É tempo de cuidar”, importante ajuda emergencial para as famílias pobres. Na Arquidiocese de Belo Horizonte, a iniciativa “Solidariedade em Rede” acompanha milhares de lares que enfrentam a fome, agravada com os desdobramentos econômicos desta pandemia. Importante citar a ação solidária “Dai-lhes vós mesmos de comer” que, a partir da infraestrutura da Catedral Cristo Rei, em construção, socorre famílias que padecem com a insegurança alimentar, ofertando refeições às muitas periferias. Não menos atenta e protagonista, a Igreja acompanha o que está em curso na sociedade, pautada pelo Pacto pela Vida e pelo Brasil. Busca, assim, contribuir para avanços imprescindíveis nas políticas públicas, necessárias para superar os preocupantes e vergonhosos cenários de desigualdades sociais. É tempo de cuidar e de reconstruir o Brasil.

Como foi esse processo no momento mais crítico da pandemia da Covid 19 e como está sendo a retomada?

A diretriz da Igreja é clara: respeitar o que diz a ciência e, nessa perspectiva, age em sintonia com as autoridades municipais no campo da saúde, para contribuir com a superação das graves consequências provocadas pela pandemia, exemplarmente. A Igreja defende a vida, dom de Deus, em todas as suas etapas, da concepção até a morte, com o declínio natural. Quando os indicadores sobre contaminação recomendaram rigor ainda maior com o distanciamento social, os fiéis foram convidados a participar a partir das suas casas, retomando a origem da Igreja. Os primeiros cristãos reuniam-se em seus lares, com as suas famílias. Assim, no período mais grave da pandemia, buscamos exercer essa tarefa essencial que é fazer de cada casa uma igreja doméstica, com o auxílio das tecnologias digitais. Com o avanço da vacinação e o maior controle da pandemia, as celebrações presenciais foram retomadas, seguindo protocolos para que sejam evitadas aglomerações. Nas comunidades, os fiéis são orientados a manterem o distanciamento social, obedecendo a demarcação de lugares, o uso obrigatório de máscara e a higienização das mãos – com a disponibilidade de álcool em gel nas Igrejas, dentre outros protocolos. A Arquidiocese de Belo Horizonte instituiu um Comitê Logístico-Sanitário, formado por especialistas, para ajudar cada paróquia a se adaptar para essa nova realidade, no horizonte balizador e sempre atual de seu documento “Evangelização missionária: um novo tempo”, publicado no dia 17 de junho de 2020. O documento reúne diretrizes para este contexto de pandemia.

Como a Igreja está se preparando para as festas de fim de ano? Com o avanço da vacinação, o senhor acredita no retorno ao que era antes da pandemia?

 Vivemos um cenário de incertezas, embora o avanço da vacinação e a progressiva redução do número de enfermos sinalizem para um gradativo controle da pandemia. Penso que o mundo não pode voltar a ser o que era antes da pandemia, pois a humanidade, se permanecer na inércia, continuará vulnerável a novos adoecimentos. Não falo simplesmente de aglomerações, mas da necessidade de serem adotados novos hábitos, mais saudáveis, nos parâmetros da ecologia integral, lembrando o que bem sublinha o Papa Francisco: tudo está interligado. A pobreza crescente tem relação com a predatória e egoísta exploração do planeta. O enriquecimento de poucos leva ao sacrifício de muitos e da própria casa comum. A solidariedade que se manifesta no compromisso de cuidar uns dos outros, respeitando o distanciamento social, o uso da máscara, vacinando-se, é força fundamental para enfrentar a pandemia – e evitar que surjam outras, alavancadas pelo egoísmo. Na imprevisibilidade em relação ao futuro, todos busquem seguir o que recomenda a ciência e as autoridades no campo da saúde, seguindo os protocolos para enfrentar a COVID-19. Procurem, especialmente, inspirar-se no que a fé cristã ensina: a solidariedade é remédio que cura a humanidade. (Foto Reprodução Internet) 

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