Toda sexta-feira à tarde, o cardiologista Marcos Andrade troca o jaleco por uma roupa mais confortável e se dedica a sua mais nova atividade: a de administrar o Espaço Cultural Marcos Andrade (foto/reprodução internet), em Ouro Preto. Inaugurado no último fim de semana em grande estilo, com exposição de arte, gastronomia, muita música, e com um leilão, organizado pelo leiloeiro Errol Flynn, Marcos Andrade tenta agora organizar a agenda dos muitos eventos que estão programados para o Espaço.
A inauguração do Espaço Cultural Marcos Andrade superou as expectativas?
A minha preocupação era de que tudo fosse ao ar livre, mas choveu umas três vezes e como teve um leilão de arte junto, com o Errol Flynn, foi um tal de colocar quadro para dentro e para fora… mas graças a Deus, foi muito bem. Tinha gente do mundo político todo, do judiciário, artistas, amigos. Foi muito bom, muito prestigiado. É o que é mais importante: as pessoas entenderam que aqui é uma coisa absolutamente complementar ao que eu faço profissionalmente. Nada de aposentar e de trocar uma coisa pela outra, muito pelo contrário. Uma coisa que mudou muito na medicina é que os clientes estão querendo saber quem é a pessoa, a pessoa do médico com quem estão se tratando. Incomodava antes saber se o médico era bom ou ruim do ponto de vista tecnológico. Hoje as pessoas querem um pouco mais: quem é a pessoa do médico com que ela quer conviver, se ela pode confiar.
É um novo relacionamento com o médico?
Essa visão mais moderna, do médico se expor, mostrar quem ele é, tudo isso é muito importante para o sucesso do tratamento. As pessoas passaram a preocupar muito com o bem-estar emocional. Na “Conversa de Consultório” falo de um estudo na Inglaterra, que mostra a relação da depressão com as doenças cardiovasculares. A depressão aumenta em 11% as doenças do cérebro, para as mortes por doença cardíaca em 11%, morte por doenças vasculares 12% e morte por todas as causas em 19%. Então, quando você pega uma pessoa deprimida e trata essa pessoa, você diminui 11, em 12 e em 19% a mortalidade dela. O estudo mostra o impacto que as doenças relacionadas a angústia, ansiedade, depressão tem sobre as doenças cardiovasculares. Não adianta tratar só o físico, tem que tratar a parte psíquica. Na parte psíquica, o remédio, nem sempre é o que a pessoa precisa. O componente mais importante é você ver onde está a angústia da pessoa, onde está a depressão, o que está acontecendo com ela e modificar a vida dela. A arte e a cultura são os melhores caminhos para isso.
E a procura pelo Espaço?
Fui procurado por um rapaz de 40 anos que estava no evento e quer fazer uma exposição de fotografias dele sobre faces das pessoas. O pessoal de teatro, que também faz uma série de encenações, fazendo as pessoas pensar sobre a vida também me procurou. A terceira pessoa é uma bióloga, paisagista que quer se associar a nós para criar coisas na área de jardinagem, de floricultura, como forma de terapia para as pessoas.
O Espaço está se abrindo ao que ele se propôs?
Exatamente. A minha ideia, a partir de agora, é de abrir para grupos pequenos, de 25, 30 pessoas, para poder ter uma boa música, um poeta, um escritor, fazer uma coisa mais densa culturalmente. Estou com muito otimismo. Acho que vai ser espaço que vai contribuir muito para a saúde dos que são pacientes e dos que virão a ser.
Não é só o paciente que precisa ter esse trabalho mental. O médico também precisa?
Fundamentalmente. O tratamento depende das duas partes. Ele precisa do médico para prescrever e o cliente fazer. Quer dizer, o médico tem que prescrever, tem que acompanhar a prescrição e o paciente tem que entender a importância daquilo que foi prescrito para ele. As decisões não podem ser unilaterais, não existe mais isso. O paciente hoje tem que entender, saber o que que está acontecendo no organismo dele, o que é que se propõe para ele. Quais as opções que existem para o problema dele. Se ele está ou não está de acordo. É um processo, uma troca de informações. Tem muita gente caminhando nesse sentido.
O Espaço Cultural Marcos Andrade é uma realidade?
Absolutamente sim. As pessoas entenderam tudo. Todo mundo ficou altamente interessado e as pessoas estão repicando esse tipo de informação. Pela qualidade das pessoas que estão me procurando, pela qualidade dos artistas, dos músicos, escritores, fotógrafos e pessoal de teatro. As pessoas que estão procurando são pessoas de altíssimo nível em suas áreas, com projetos muito interessantes para a gente trabalhar nisso aqui. Estou muito entusiasmado. Uma coisa interessante foi que muita gente nunca tinha participado de um leilão. Tinha gente que conhece muito de arte, mas muita gente que não conhecia essa metodologia e vimos todo mundo visitando os quadros, todos participando ativamente do leilão. Foi um processo de divulgação da arte. Nesse sentido, foi um sucesso total. Não teve ninguém que não se envolvesse com o leilão. O resultado financeiro eu não sei, mas do ponto de vista da exposição de escultura, com todo mundo passeando pelos jardins, vendo as esculturas, conversando com os escultores, conversando com os artistas, foi muito bom. O Fernando Pacheco pintou ao vivo e quando ele terminou as minhas netinhas vieram pedindo para pintar. Eu tinha aqui um vaso de aço, dividimos o espaço entre as netas e cada uma pintou um jardim. Foi emocionante. Isso é sucesso total. Uma geração de meninas de 5, 7 anos, que observaram e replicaram. Isso pagou a festa.