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Setor sucroalcoleiro de olho no preço do petróleo

Paulo César de Oliveira
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A crise internacional provocada pelo coronavirus que afeta todo o planeta, potencializada com a briga entre Rússia e Irã, fez despencar o preço do petróleo e surpreendeu toda a cadeia produtiva. Em especial os produtores de etanol, que temem que o produto se torne menos competitivo. O presidente da Siamig-Sindicato das Industria Sucroenergéticas de Minas Gerais, Mário Campos considera que o que aconteceu foi um choque de petróleo.

 

O sobe e desce no preço do petróleo está afetando o etanol?

Na verdade, nós tivemos um choque de petróleo, uma queda de preço, na última semana com a briga entre Arábia Saudita e Rússia e isso pode realmente prejudicar a competitividade dos biocombustíveis. Nós temos hoje no Brasil uma política de alinhamento de preços internos de derivados de petróleo, com os preços internacionais. Os preços internacionais são formados através do preço da gasolina e do diesel, aliado ao barril de petróleo e ao câmbio. Sem dúvida alguma, esse patamar do petróleo por volta de US$ 35, neste momento conturbado, sem que ninguém saiba como isso vai acabar, acaba gerando isso que aconteceu na última semana, com o preço do barril ficando entre US$ 30 e US$ 35. Se vai chegar ou não ao consumidor, depende do repasse dessas reduções pelos elos da cadeia e é um dos pontos que o presidente vem reclamando.

 

Por que isso acontece?

Nós vivemos em um momento de liberdade de preços. As distribuidoras estabelecem seus preços de acordo com o mercado. O que acontece com o mercado é que temos um fluxo de importações importante, em torno de 20% e quando esse produto é importado, é feito um alinhamento e com isso, perde participação interna. É importante dizer que esse programa de alinhamento precisa continuar porque é isso que dá credibilidade ao mercado. Mas com o preço do petróleo nesse patamar teremos um efeito no mercado de etanol. O etanol, que o produtor tinha uma condição de ter uma boa remuneração, agora provavelmente vai ser vendido sem que nós saibamos se vai atingir o custo da produção. Nós teremos um efeito na nossa cadeia de produção de etanol. Nesse caso, nós também temos a possibilidade de trabalhar com o açúcar. E temos no momento, uma perspectiva boa para o açúcar neste ano. Nós tivemos uma janela de precificação em dezembro de 2019 e fevereiro desse ano, em que as empresas tiveram uma boa precificação de mercado. Isso vai dar uma rentabilidade interessante para o setor de açúcar. Vai compensar para quem produz os dois, o etanol e o açúcar. Mas nós não sabemos o que fazer para que possamos manter o etanol com uma rentabilidade para estimular o produtor a aumentar a sua produção. Ninguém vive com baixo custo. Nós temos este ano o programa Renovabio, que vai gerar aos produtores o certificado CBio, que terá muito efeito para o setor.

 

Mas quando o Renovabio vai sair do papel?

Isso é o mercado é quem vai definir. Nós não sabemos quando, mas há uma receita que nós teremos esse ano, que no ano passado nós não tivemos, que pode compensar uma parte da perda, mas não vai cobrir o custo. Falou-se na criação de um fundo que pudesse amortizar as flutuações de mercado de petróleo, mas está tudo muito conturbado com a economia, e agora com o coronavirus em que as demandas de saúde são imensas e temos que esperar para ver o que vai acontecer, saber o tamanho dessa crise.

 

O preço do petróleo, com essa briga entre Rússia e Irã, se sustenta?

Pode ser até que o preço caia mais, ou aumente. Nós não sabemos. Parece que esse atual patamar vai continuar por um tempo. No início do ano com essa briga entre a Rússia e o Irã, o barril do petróleo chegou a US$ 70 e agora estamos falando em US$ 35. Para definir e mudar seus planos de negócios, suas perspectivas de orçamento ficam muito complicadas. O petróleo impacta a vida de muitos setores. Não é o preço do petróleo nesse patamar que vai postergar a busca do biocombustível. Nós temos a busca de algo eficiente e limpo. Isso não vai parar com a busca de combustíveis limpos.

 

Existe uma estimativa de queda no consumo do etanol?

Está muito cedo ainda. Mas a nossa expectativa no início do ano era a de que a economia iria crescer um pouco mais de 2%. Normalmente o consumo de combustível cresce mais do que a economia. No ano passado a economia cresceu 1.1 e os consumo de combustível ficou em 1.6. Qual é a previsão de crescimento da economia brasileira? Não sabemos se teremos o mesmo problema que a Itália está tendo. Pode ser que tenhamos um efeito semelhante ao da greve dos caminhoneiros, mas com os caminhões nas estradas. As cidades podem parar. É muito cedo para falar nos impactos. O problema é que temos muitos eventos que foram cancelados. Nós temos um turismo muito forte, mas que está parado porque as pessoas não querem se locomover. Como vai ficar a dinâmica do mercado? Nos últimos dois anos vendemos mais etanol do que açúcar e agora devemos vender mais açúcar. Mas o quanto vai cair vai depender do impacto econômico da crise e para onde vai o preço do petróleo. O câmbio alto também abre a possibilidade de exportar etanol. Hoje pelo menos 40 países usam o etanol.

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